Conhecido por seus trabalhos publicitários e por alguns dos primeiros calendários fotográficos da Pirelli, o fotógrafo alemão Hans Günter Flieg (1923 - 2024) publicou em 1971 uma série de fotos 32 ilustrando o livro "Passeio a Ouro Preto", de Lúcia Machado de Almeida.
Republicado em 2012, "Passeio a Ouro Preto" não traz mais a obra de Flieg. Suponho que tenha a ver com a venda de toda a sua coleção para o Instituto Moreira Salles. Desenhos do pintor de coração mineiro Alberto da Veiga Guignard foram publicados em seu lugar.
Com a primeira edição do livro em mãos, o percurso dos autores originais foi refeito e 11 fotografias foram recriadas. Este ensaio é, portanto, uma tentativa de devolver ao público as fotos de Hans Günter Flieg com a maior fidelidade possível.
Quando viu suas fotos refeitas em 2017, Flieg me disse aos risos: "É claro que elas ficaram boas. O enquadramento é meu!"
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(1.1) Olímpia; Hans Günter Flieg (1971)
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(1.2) Fonte do Museu da Inconfidência; Douglas Lambert (2015)
(1.1) Olímpia; Hans Günter Flieg (1971)
(1.2) Fonte do Museu da Inconfidência; Douglas Lambert (2015)
"E que ninguém se espante encontrando por aquela ladeiras a figura de Olympia, a visionária de Vila Rica, trajada de modo esdrúxulo, vasto chapéu de plumas, bastão na mão, a falar de grandezas passadas, condes e barões. Quando menos se espera, lá vem ela com seu "vestido velho e desbotado, cuja invisível cauda arrasta com desdém"."
- Lúcia Machado de Almeida (p.32)
- Lúcia Machado de Almeida (p.32)
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(2.1) Museu da Inconfidência; Hans Günter Flieg (1971)
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(2.2) Museu da Inconfidência; Douglas Lambert (2015)
(2.1) Museu da Inconfidência; Hans Günter Flieg (1971)
(2.2) Museu da Inconfidência; Douglas Lambert (2015)
"No mesmo sítio onde foi exibida a cabeça de Tiradentes o povo ergueu (1867) uma "Coluna dos Inconfidentes", substituída em 1894 pela estátua dos alferes (granito) que hoje lá se vê. Alguns dos mais importantes prédios coloniais de Vila Rica se acham nesta praça, como, por exemplo, o antigo Palácio dos Governadores e a velha Casa de Câmara e Cadeia, atualmente Museu da Inconfidência, e que lhe fica em frente."
- Lúcia Machado de Almeida (p.33)
- Lúcia Machado de Almeida (p.33)
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(3.1) Casa dos Contos; Hans Günter Flieg (1971)
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(3.2) Casa dos Contos; Douglas Lambert (2015)
(3.1) Casa dos Contos; Hans Günter Flieg (1971)
(3.2) Casa dos Contos; Douglas Lambert (2015)
"(...) a Casa dos Contos, construída no final do século XVIII por João Rodrigues de Macedo, e mais tarde assim chamada de acordo com o nome dado às casas onde se guardava o ouro. A fachada é de alvenaria de pedra, e de seu vestíbulo monumental sai uma grandiosa escadaria que termina por florão e pinha."
"Num pequeno compartimento que havia por baixo da escadaria principal dessa Casa dos Contos, consta que esteve preso e se enforcou o já bem nosso conhecido magistrado Inconfidente Cláudio Manoel da Costa. Seu corpo foi encontrado recostado numa estante, o pescoço apertado por um cordão encarnado. Suicídio ou assassinato?"
- Lúcia Machado de Almeida (p.51, 52)
"Num pequeno compartimento que havia por baixo da escadaria principal dessa Casa dos Contos, consta que esteve preso e se enforcou o já bem nosso conhecido magistrado Inconfidente Cláudio Manoel da Costa. Seu corpo foi encontrado recostado numa estante, o pescoço apertado por um cordão encarnado. Suicídio ou assassinato?"
- Lúcia Machado de Almeida (p.51, 52)
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(4.1) Largo do Rosário; Hans Günter Flieg (1971)
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(4.2) Largo do Rosário; Douglas Lambert (2015)
(4.1) Largo do Rosário; Hans Günter Flieg (1971)
(4.2) Largo do Rosário; Douglas Lambert (2015)
"As paredes da Casa dos Contos jamais contarão o que entre elas se passou! Deixemo-ka com seus mistérios e tomemos a Rua São José seguindo até o Lardo da Alegria (ou Praça Silviano Brandão) de onde continuaremos pela Rua Getúlio Vargas até atingirmos o Largo do Rosário com suas velhas e sugestivas casas."
- Lúcia Machado de Almeida (p.53)
- Lúcia Machado de Almeida (p.53)
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(5.1) Alto do Carmo; Hans Günter Flieg (1971)
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(5.2) Adro da igreja de Nossa Senhora do Carmo; Douglas Lambert (2015)
(5.1) Alto do Carmo; Hans Günter Flieg (1971)
(5.2) Adro da igreja do Carmo; Douglas Lambert (2015)
"Foi no adro dessa igreja que o poeta Raimundo Correia, numa noite de exaltado lirismo, declamou em altas vozes para um grupo de amigos o poema dedicado a Vila Rica que compusera dias antes e ao qual já nos referimos. O mesmo adro e o cemitério particular da Confraria inspiraram Carlos Drummond de Andrade essa pequena maravilha:
"Não calques o jardim
nem assustes o pássaro
um e outro pertencem
aos mortos do Carmo"
nem assustes o pássaro
um e outro pertencem
aos mortos do Carmo"
Não perturbemos o implacável silêncio e o sono sem fim dos que repousam sob nas lousas. Prossigamos."
- Lúcia Machado de Almeida. (p.62-63)
- Lúcia Machado de Almeida. (p.62-63)
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(6.1) São Francisco de Assis; Hans Günter Flieg (1971)
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(6.2) Igreja de São Francisco de Assis; Douglas Lambert (2015)
(6.1) São Francisco de Assis; Hans Günter Flieg (1971)
(6.2) Igreja de São Francisco de Assis; Douglas Lambert (2015)
"(...) eis a Igreja de São Francisco de Assis, com sua duas torres cilindradas, iniciadas em 1766 pela Confraria da Ordem Terceira dos Franciscanos, e tão impregnada de Antônio Francisco Lisboa. Sim, pois o Aleijadinho não só lhe desenhou o plano interno e externo, riscou e executou o altar-mor, o retábulo e os alteres laterais, como também fez as esculturas da portada, dos púlpitos e do chafariz da sacristia, em pedra-sabão"
- Lúcia Machado de Almeida (p.64)
- Lúcia Machado de Almeida (p.64)
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(7.1) Antônio Dias - Chafariz do Passo; Hans Günter Flieg (1971)
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(7.2) Chafariz do Passo; Douglas Lambert (2015)
(7.1) Antônio Dias - Chafariz do Passo; Hans Günter Flieg (1971)
(7.2) Chafariz do Passo; Douglas Lambert (2015)
"Rumando para o velho bairro de Antônio Dias, que fica próximo, desceremos a curvilínea Rua São Francisco, observando de passagem (na esquina da Rua Carlos Tomaz (antiga Gibu) a casa onde viveu o Inconfidente Cláudio Manoel da Costa. Chegaremos então à Rua Bernardo Vasconcelos (antiga Antônio Dias) da qual desce uma viela estreita — a Rua do Aleijadinho — onde morou o escultor numa casinha, cujo terreno, segundo mestre Bandeira, ficaria no local situado entre as casas de números 2 e 8"
- Lúcia Machado de Almeida (p.73)
- Lúcia Machado de Almeida (p.73)
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(8.1) Antônio Dias - Matriz de Nossa Senhora da Conceição; Hans Günter Flieg (1971)
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(8.2) Mirante da rua Bernardo Vasconcelos; Douglas Lambert (2015)
(8.1) Matriz de Nossa Senhora da Conceição; Hans Günter Flieg (1971)
(8.2) Mirante da rua Bernardo Vasconcelos; Douglas Lambert (2015)
"Continuando a descer a Rua Antônio Dias, chegaremos à praça desse mesmo nome, e onde nos idos de 1699 fora construída por aquele bandeirante uma capelinha sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição."
- Lúcia Machado de Almeida (p.73)
- Lúcia Machado de Almeida (p.73)
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(9.1) Rua Bernardo de Vasconcelos; Hans Günter Flieg (1971)
(9.2) Rua Bernardo Vasconcelos; Douglas Lambert (2015)
"Continuando nosso caminho, entraremos à direita pelo chamado Beco da Lapa e sairemos na Praça Antônio Dias, onde se acha a matriz desse nome. A construção definitiva dessa igreja, que, segundo Bretas, teve como mestre-de-obras um tio do Aleijadinho por nome Pombal, foi feita por iniciativa da Irmandade do Santíssimo Sacramento. Iniciada em 1727, só foi terminada na segunda metade do século dezoito."
- Lúcia Machado de Almeida (p.73)
- Lúcia Machado de Almeida (p.73)
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(10.1) Chafariz de Marília de Dirceu; Hans Günter Flieg (1971)
(10.2) Chafariz de Marília de Dirceu; Douglas Lambert (2015)
"Atravessando pouco adiante a ponte de Antônio Dias (ou de Marília) datada de 1755, e que ainda conserva características romanas, chegaremos ao Largo de Dirceu com sua velha fonte construída em 1759. Onde teria vivido Maria Dorotéia?
Alguns Historiadores situam sua residência — pelo menos no período da juventude — na casa amarela até hoje existente atrás do Chafariz de Marília — e hoje sede do Clube 15 de novembro."
- Lúcia Machado de Almeida (p.76)
Alguns Historiadores situam sua residência — pelo menos no período da juventude — na casa amarela até hoje existente atrás do Chafariz de Marília — e hoje sede do Clube 15 de novembro."
- Lúcia Machado de Almeida (p.76)
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(11.1) Ladeira do Vira-Saia (Santa Efigênia); Hans Günter Flieg (1971)
(11.2) Ladeira do Vira-Saia, vista de Santa Efigênia para o bairro de Antônio Dias; Douglas Lambert (2015)
"Se continuarmos subindo a ladeira do "Vira Saia", ou melhor, de Santa Efigênia, iremos ter novamente à igreja que já visitamos pela manhã [Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos], e que foi construída por escravos."
- Lúcia Machado de Almeida (p.85)
- Lúcia Machado de Almeida (p.85)
O CASO DOS VIRA-SAIA
por Lúcia Machado de Almeida
E eis que chegou a vez de falarmos em acontecimentos reais misturados com lendas, sucedidos no bairro que estamos visitando. No começo do século dezoito, em plena extração de ouro, e quando o ar já exaltava a sedição de 1720, uma notícia alarmante se espalhou pela Vila: mal se aprofundava a noite, fantasmas horrendos começaram a sair da boca das minas e a trafegar pela encosta dos morros.
Muita gente vira, à luz da lua, aquelas criaturas vaporosas cujos contornos adquiriram formas que a imaginação de cada um descrevia de acordo com a própria fantasia. Alguns Tinham Chifres, outros possuíam asas e lembravam grifos gigantescos. A coisa foi indo num tal "crescendo" que o terror tomou conta de Vila Rica. Convencidos de que o bairro ficara mal-assombrado, os moradores de Antônio Dias mudaram-se quase todos para outros lugares, e uma comissão foi à Vila dos Ribeirão do Carmo (Mariana) pedir socorro a D. Pedro de Almeida, Conde de Assumar, que prometeu tomar providências. O Governador da Capitania então baixou o seguinte decreto datado de 13 de julho de 1720: "Para evitar todo gênero de desassossego que tem com os mascarados, atirem-se contra estes e os matem, por serem perturbadores do sossego público, e se lhes dará um prêmio de cem oitavas de ouro, a todo aquele que constar que matou algum mascarado que apareça no morro, ou na Vila, a qualquer hora da noite". Tudo inútil. Ninguém teve coragem de enfrentar os "fantasmas".
Decidiu-se então recorrer ao auxílio divino. Alguns sacerdotes sugeriram a construção de pequenos oratórios nas entradas da Vila, na fachada das casas e na encruzilhada das ruas, a fim de afastar o malefício com preces. Assim foi feito. Ao meio dia, às seis da tarde e à meia noite o povo se reunia em frente aos oratórios nas entradas da Vila, cantava hinos e rezava o terço. Só muito tempos depois foi que a coisa ficou mais ou menos esclarecida.
Os fantasmas nada mais eram do que um grupo de espertalhões que, tendo descoberto ricos veieiros no bairro de Antônio Dias, resolveram tirar partido da ingenuidade do povo e combinaram aquela farsa, conseguindo o seu intento: tirar em paz o seu ourozinho. Com o passar do tempo, vários pequenos nichos encaixados nos cunhais das ruas já desapareceram, restando apenas dois: o de Nossa Senhora do Bom Despacho, na Rua Bernardo Vasconcelos (ex-Antônio Dias) esquina da Rua dos Paulistas, e o do Alto da Cruz, na encruzilhada da Rua Santa Efigênia (ou do Vira Saia) com a Barão de Ouro Branco.
A este ultimo se prende a fascinante tradição de Antônio Francisco Alves, ao que dizem, filho de índio com negra africana, mais tarde famoso e temido com o nome de "Vira Saia".
Ai vai a história que nos contaram: Enquanto Felipe dos Santos¹ morria e era esquartejado em Vila Rica, ali crescia o adolescente Antônio em casa de um padre que o adotara, e ao qual ajudava como sacristão. O jovem fora educado com certo capricho, vivia revoltado diante da prepotência da Metrópole, em relação às taxas o ouro. Conta a tradição que Antônio sumiu de casa, e durante alguns anos não mais se ouviu falar nele.
Coisas inexplicáveis estavam acontecendo então: as caravanas que transportavam ouro para o Rio de Janeiro, destinado à Coroa Portuguesa, estavam sendo matematicamente assaltadas e roubadas por bandoleiros desconhecidos. Os ladrões conheciam os roteiros, pois atavam exatamente no lugar certo, fosse por Cachoeira do Campo ou pelo lado oposto. Caravanas de despiste foram organizadas sem resultado algum. Dir-se-ia que os salteadores sabiam quais as falsas e as verdadeiras. Não havia dúvida: a quadrilha possuía um cumplice dentro da própria Casa de Fundição, onde era guardado o tesouro real, e de onde partiam as caixas com barras de ouro. Mas... quem seria o chefe? Sabia-se apenas que era conhecido como "Vira Saia". Fiscalização intensa, ameaças, tudo em vão. Muito dinheiro fora prometido a quem revelasse o nome do "cabeça" da tal quadrilha que havia anos aterrorizado a Vila.
Um belo dia houve a delação. Certo espanhol, pouco conhecido no lugar, procurou as autoridades e recomendou-lhes que observassem escondido uma coisa que iria acontecer por volta de meia-noite no pequeno oratório público que até hoje existe na esquina da Rua Santa Efigênia (ou Vira Saia) com o atual Barão de Ouro Branco. O espião assim fez. Disfarçado num canto, teria esperado a noite se aprofundar, até que, quando não mais havia ninguém na rua, viu se aproximar cautelosamente um volto segurando uma coisa qualquer. O Homem parou diante do oratório, ajeitou a escada e virou ligeiramente para o lado a imagem de Nossa Senhora das Almas que lá se achava. Feito isso, desceu os degraus e entrou numa casa comprida e branca de janelas azuis que existia em frente. O espião continuou quieto observando no escuro ainda algum tempo, mas nada mais viu.
O espanhol que dera a pista e que se achava retido no quartel, esclareceu a história: o misterioso vulto não era outro senão Antônio Francisco Alves, respeitável negociante e pai de família, morador antigo do bairro, dono de todas as casas da rua, e o chefe da quadrilha, fato que nem seus próprios filhos sabiam. Orientado por secretíssimo cumplice, (pessoa de confiança dos portugueses) Antônio inventara uma sistema, ou melhor, uma espécie de senha para avisar o bando. Deveriam todos passar diariamente em frente ao tal oratório, como se caminhassem naturalmente pela ruas. Quando a imagem estivesse meio virada para certo lado, isso significava que a caravana deveria sair na manhã seguinte pelo caminho das "Cabeças"; se em direção contraria, o roteiro seguiria rumo oposto. Desse detalhe teria vindo o apelido Vira e Sai, transformado por corruptela em "Vira Saia". O traidor contou que uma parte do ouro roubado era distribuído entre os "Vira Saias" e o restante para uma espécie de depósito em determinado esconderijo. Soube-se então que a quadrilha era enorme, e que saíra de uma poderosa organização secreta instituída com a finalidade de sabotar o fisco e impedir que o ouro fosse para Portugal. Dessa seita, conhecida como "Objetivistas", faria parte um ex-jesuita francês que abandonara a batina por causa de uma moça por quem se apaixonara e com a qual fugira para o Brasil, fixando-se em Vila Rica, com o nome suposta de Louis Gibut. Segundo a tradição, teria sido esse religioso quem sugeria a ensinava a Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, os textos em latim frequentemente encontrados nas obras do mestre. Dizia-se também que o francês morava na hoje Rua Carlos Tomaz, razão pela qual esta se chamava rua do Gibu. O antigo jesuíta detestava os portugueses devido à aliança destes com a Inglaterra, então inimiga de sua terra.
Voltemos à nossa história: no dia seguinte, Vira Saia estava almoçando com a mulher e duas filhas moças quando caiu morto atingido por misterioso tiro de arcabuz. Logo em seguida vários soldados amordaçaram a esposa (que seria prima de Marília) e as filhas de Antônio, arrastaram-nas até um matagal vizinho e maltrataram-nas até a agonia. Quem as socorreu foi a velha Siá Duruta, moradora numa ruazinha que saia da chácara dos Ferrão. Tarde demais. A mãe e uma das filhas já estavam mortas. A outra viveu apenas um dia. E ficou se chamando "Beco de Siá Duruta" o lugar onde a velha morava. Desconfiando que iria virar defunto, o delator fugiu, mas acabou morrendo trespassado pela lança de um "Vira Saia". Até há pouco tempo ainda havia em Vila Rica, logo depois de descoberta a conjuração, lugar onde Antônio Francisco Alves foi vingado. Por incrível que pareça, existe até hoje a casa do "Vira Saia" com seus quinze quartos e sala forrados de esteia, sua atmosfera de romance e aventura. Como que a autenticá-la, enfrentou o tempo uma placa de pedra-sabão embutida numa pilastra, na qual com a caligrafia da época, se pode ler: "Antônio Francisco Alves o fez a sua custa. Pelas Almas P.N.A. M. A. — 1741".
Aquele imenso, misteriosos quintal cheio de árvores e trepadeiras insinuando-se por grutas e esconderijos, trouxe nossa imaginação de volta à infância. E não nos espantaríamos se do secreto e disfarçado túnel subterrâneo que ali existe saíssem Rocambole² e Duguay-Trouin³, ou até mesmo... quem sabe? O próprio senhor "Vira Saias", pois no Arquivo público Mineiro existem alguns códices referentes às atividades e à prisão de um grupo deles, nos anos de 1797, 1799 e 1803. Esses documentos provam que o bando continuou em atividade depois da morte do (segundo a tradição) seu primeiro chefe Antônio Francisco Alves, e revelam que, a mando de Bernardo de Lorena, então Governador da Capitania de Minas Gerais, um certo capitão Brandão prendeu e remeteu para Vila Rica, fortemente escoltados, "não só os Vira Saias e sua quadrilha, mas até suas mulheres e meninos dessas famílias em número de cento e tantas pessoas". Os códices citam um certo terrível João Nunes Giraldes, que na época seria o chefe dos "Vira Saias", e que se achava então doente com malária, o que certamente facilitou sua captura no lugar chamado São Romão, no Vale do Rio São Francisco.
Deixemos aos estudiosos a tarefa de averiguar onde acaba a história e começa a lenda.
¹ Líder da Revolta de Vila Rica, de 1720. Considerado um dos movimentos precursores da Inconfidência Mineira.
² Personagem de "As Proezas de Rocambole", de Pierre Alexis Ponson du Terrail, romance-folhetim publicado à partir de 1853. O personagem principal, Rocambole, é um homem envolvido em trapaças, hábil em enganar as pessoas usando de disfarces diversos.
³ Corsário francês famoso por ter liderado a invasão francesa do Rio de Janeiro em 1711.
² Personagem de "As Proezas de Rocambole", de Pierre Alexis Ponson du Terrail, romance-folhetim publicado à partir de 1853. O personagem principal, Rocambole, é um homem envolvido em trapaças, hábil em enganar as pessoas usando de disfarces diversos.
³ Corsário francês famoso por ter liderado a invasão francesa do Rio de Janeiro em 1711.
ALMEIDA, Lúcia Machado de. Passeio a Ouro Preto. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1971. 268 p. Com capa e 32 fotos de Hans Günter Flieg.